top of page

Caldo-de-cana

Ontem eu dancei sob a lua cheia com os meus gatos na estrada erma na frente da minha casa pequena e vi dragões dançarinos na palmeira do licuri ao vento em que tudo soprava e lambia no meu corpo ela orgasmos mirações bênçãos convulsões nuvens ela a que tinha partido há pouco e amado sonho sono...

 

 

Hoje eu colhi abóboras e assisti futebol

 

 

Comi a única e primeira pokã da árvore que se inaugurou este verão

 

 

Anoiteceu

 

Choveu

 

Escrevi poesia  

(com o sexo nos dentes)

Imagens

Carne

Metáforas

Adormeci

Amanheceu

Podei árvores e tirei matos

Limpei com terra o meu corpo

(senti de novo o cheiro real dela)

Vizinho trouxe raiz de aipim que almocei

Levou cana-de-açucar que arranquei

Contou que faria da cana o caldo e do meio da explicação na sua linguagem simples de sertanejo agarrei palavras espremidas cujo som e imagem e sabor achei demais bonito quando disse: eu rasp´elas...  

 

 

eu rasp´elas

 

Entretanto

Entreterras

Entredentes

Imagens

Sons das palavras

Não pude desapegar do chão

Tive a intensa vontade e os sentidos de só estar assim

Enfiado na terra

(e no seu corpo)

Enlameado

Plantar

Lambuzar

Ser terra sem pudor

Sem metáforas ou imagens vaidosas

Escrita

Com a boca cheia do gosto de dizer as palavras cruas corretas

Para contar da mistura dos nossos corpos suados

(o meu e o d´ela)

Atravessados

Abocanhados

Gozados

© 2024 Direitos Autorais Reservados 

bottom of page