meio nu
meio não
Caldo-de-cana
Ontem eu dancei sob a lua cheia com os meus gatos na estrada erma na frente da minha casa pequena e vi dragões dançarinos na palmeira do licuri ao vento em que tudo soprava e lambia no meu corpo ela orgasmos mirações bênçãos convulsões nuvens ela a que tinha partido há pouco e amado sonho sono...
Hoje eu colhi abóboras e assisti futebol
Comi a única e primeira pokã da árvore que se inaugurou este verão
Anoiteceu
Choveu
Escrevi poesia
(com o sexo nos dentes)
Imagens
Carne
Metáforas
Adormeci
Amanheceu
Podei árvores e tirei matos
Limpei com terra o meu corpo
(senti de novo o cheiro real dela)
Vizinho trouxe raiz de aipim que almocei
Levou cana-de-açucar que arranquei
Contou que faria da cana o caldo e do meio da explicação na sua linguagem simples de sertanejo agarrei palavras espremidas cujo som e imagem e sabor achei demais bonito quando disse: eu rasp´elas...
eu rasp´elas
Entretanto
Entreterras
Entredentes
Imagens
Sons das palavras
Não pude desapegar do chão
Tive a intensa vontade e os sentidos de só estar assim
Enfiado na terra
(e no seu corpo)
Enlameado
Plantar
Lambuzar
Ser terra sem pudor
Sem metáforas ou imagens vaidosas
Escrita
Com a boca cheia do gosto de dizer as palavras cruas corretas
Para contar da mistura dos nossos corpos suados
(o meu e o d´ela)
Atravessados
Abocanhados
Gozados